quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Exposição de Tina Coêlho mostra flagrantes de expressões culturais e étnicas do Brasil e do mundo


 
 
  
Fotógrafa registra o encontro de etnias
Quando ela trabalhava em redação de jornal diário, os colegas fotógrafos achavam curioso Ana Cristina Coêlho, carinhosamente chamada de Tina, gostar de fotografar lixão e cadáveres. E de fazer o feio parecer bonito. No leque vasto de imagens, tinha de defunto a presidente. Mas o que Tina adora mesmo é clicar expressões culturais. Essas, sobretudo, são registradas por uma lente que mescla o olhar jornalístico com o artístico. Faz, ao mesmo tempo, ensaio e reportagem. “Aprofundei o factual.” É assim que define as fotos tiradas durante o Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros, que estão agora reunidas na exposição Entre laços, em cartaz no Memorial Darcy Ribeiro até 17 de setembro.
 
Neste ano, a 10ª edição do evento ocorreu, em julho, na Vila de São Jorge, distrito de Alto Paraíso de Goiás. Durante os 15 dias de evento, Tina Coêlho produziu 15 mil fotos que retratam as diferentes comunidades e povos que passaram por lá, entre eles índios, quilombolas e africanos. Desse amplo universo de imagens, 49 delas foram selecionadas para a exposição. “As boas fotografias te chamam, gritam. Não tem matemática para isso. Na hora da edição, elas pulam à sua frente”, conta.
 
As fotografias escolhidas têm por objetivo traduzir em imagens o espírito de comunhão do encontro. “Muitas vezes, é difícil ter acesso a apenas uma dessas etnias, imagina a todas elas juntas”, afirma Tina, encantada com a oportunidade de transitar entre mundos diversos. O contato pode ser visto no toque entre as mãos de uma senhora de cabelos grisalhos e uma pequena índia, agarrada ao colo da mãe. Todas as fotografias são tentativas de captar a expressão cultural e pessoal dessa gente e, como elas se misturam. Para Tina, o público também é participante, um “outro ente dentro do festival”, define. “Todas elas revelam o que há de especial nesse encontro de etnias”, acredita.
 
Olhar misturado
Tina não procura semelhanças, tampouco diferenças. O olhar dela é atraído pelo fruto da mistura entre as várias culturas. Acessórios e pinturas de diversas etnias adornam um mesmo corpo: seja a menina kahô, seja a mulher calunga. “Infelizmente, a fotografia não carrega sons”, lamenta. Contudo, a visualidade das indumentárias da dança do sussa, grupo quilombola Calunga, não passa despercebida à lente fotográfica.
 
Em meio a tantos símbolos culturais fortes, Tina se posiciona à distância. Provida de uma lente capaz de congelar os mais longínquos lances de uma partida de futebol, Tina brinca de “roubar almas”: “Tento captar ao máximo a coisa como ela é. Quanto mais distante, menos você interfere”. E, portanto, mais perto se chega do que seria definido como realidade. “Depois de um tempinho, a pessoa esquece que tem um fotógrafo ali”, acredita. São as potentes lentes teleobjetivas que permitem a Tina manter a discrição, na medida do possível.
 
Em Entre laços, as fotografias repousam sobre os painéis de vidro da própria estrutura do Memorial Darcy Ribeiro. Tina explica por que preferiu aproveitar o que encontrou edificado, no lugar de utilizar suportes específicos para fotografias: “O formato circular do espaço cria um caminho. A luz durante o dia interage bem com o cenário de fundo, que é o jardim”. A ordem não é cronológica, mas fluida. O início coincide com o fim na figura do chocalho: aquele que dita o ritmo. “O ritual permeia as fotografias”, descreve.
 
 
 

 
 
Blenda Almeida 2º semestre Design de Moda
 
 

2 comentários:

  1. Muito legal, Blenda! Fazer o feio parecer bonito, tem que ter um olhar especial para ver as coisas.. Gostei! Abçs

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