"Normose", palavra lançada pelo mestre e divulgador de hatha ioga no Brasil - José Hermógenes de Andrade Filho - define um conceito amplo, mas que aqui podemos definir aproximadamente como a "doença de ser normal".
Segundo o Professor Hermógenes, atualmente todos querem se encaixar num padrão: "O sujeito 'normal' é magro, alegre, belo, sociável, e bem-sucedido. Quem não se 'normaliza', quem não se encaixa nesses padrões, acaba adoecendo.”.
Tomando esse tema como ponto de partida, poderia enveredar o debate por diversos caminhos, mas agora nos interessa traçar um paralelo entre esse raciocínio e o panorama da moda atual.
A moda nunca foi tão democrática e a internet atua como ferramenta facilitadora na busca por informação e consumo - blogs, facebook, revistas online, e-commerces, google e afins. O resultado é a banalização e a massificação das informações, o que podemos comprovar pelo desfile exagerado e deliberado dessas tais “últimas tendências de moda” nas ruas.
Primeiro foi a estampa de oncinha, depois a calça vermelha cropped e a próxima vítima será, sem dúvidas, a estampa de cobra.
Todas padeceram do mesmo mal, tendências que chegaram digeridas e pasteurizadas às lojas da 25 de Março, ao Shopping Iguatemi e às lojinhas do interior mais longínquo do país.
Algumas, como no caso da calça vermelha, se esgotam antes mesmo de cumprirem o ciclo vital da moda – IDENTIFICAR/CONSUMIR/ESGOTAR/DESCARTAR(REIDENTIFICAR). Pulam a fase da identificação da tendência direto para o esgotamento; ninguém consegue ouvir, falar ou usar o combo: calça vermelha cropped/skinny + camiseta + jaqueta de couro/blazer + scarpin!
Observamos que as pessoas recebem a informação e ao invés de decodificá-la e adequá-la aos seus hábitos, à sua personalidade, estão apertando o CRTL+C + CTRL+V direto das telas de seus computadores para as ruas.
Para tentar entender esse comportamento, podemos citar o psicanalista e romancista Contardo Calligaris: “Quando desistimos da nossa singularidade para descansar no comportamento de grupo, aí está a origem do mal. O grupo, para mim, é o mal.”; ou ainda o estilista Brasileiro Ronaldo Fraga: “Em tempos de tamanha liberdade (...), a grande dificuldade é lidar com essa liberdade, porque lidar com liberdade não é fácil: demanda autoconhecimento e apropriação. A grande dificuldade das pessoas é trazer pequenos vestígios de quem elas são nas suas escolhas...”.
Sempre atentas a esse tipo de comportamento, as indústrias - não só a indústria da moda - se aproveitam para estimular o consumo desenfreado – que vem se estabelecendo como o mal do século.
Hoje em dia é preciso coragem para viver, principalmente para assumir a singularidade de cada um, e assim, estar suscetível a um número sem fim de tombos, angústias e frustrações, é estar sujeito a não agradar, é saber dizer não, mas com a consciência tranquila de sermos os autores de nossa própria história.
E essa coragem, ou mais especificamente a falta dela, está refletida no nosso dia-a-dia, desde o que escolhemos ao vestir, o que vamos comer, o que vamos ler, as pessoas que elegemos para conviver, enfim em todas as nossas escolhas.
E não é um caminho tão simples optar pela nossa unicidade e encarar a nós mesmos. É preciso fazer todos os dias o dever de casa, assim como aprendemos nos primeiros anos de escola.
Fabiana Martins - 2º semestre/2011 noturno, Design de Moda.
Speachless!!!!!!!
ResponderExcluirAdorei seu post Fabiana. É nesta linha de pensamento que eu vejo a moda atual! Um beijo.
ResponderExcluirbom post!
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